terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O que levou Peniche a ser escolhida para o WT‏?

Durante o Pro Search de Peniche coube-me a tarefa de fazer lobby junto de quem teria capacidade de decisão para tornar o campeonato um etapa definitiva do WT. Como devem calcular fiquei extremamente contente ao ouvir a declaração do Brodie Carr, CEO da ASP sobre incluir Peniche no calendário de 2010, o que quer dizer que o trabalho compensou e deu frutos!!!

Lembro-me de no último dia ter andado às voltas do pessoal da ASP, da RipCurl e dos patrocinadores para conseguir entender para que lado finalmente tendia a balança.
A minha conclusão final foi que, se “racionalmente” a prova não tinha sido o êxito esperado, “emocionalmente” tinha arrebatado até os mais cépticos. O regresso da prova iria apenas depender da forma como a decisão ia ser tomada: racional e baseada em factos, à boa maneira das grandes multinacionais ou emocional (como aparentemente acabou por ser)?

Para entenderem a importância deste dilema têm de pensar na forma como decisões deste tipo são tomadas; numa entrevista de trabalho, por exemplo o entrevistador toma uma decisão emocional nos primeiros minutos depois de conhecer o candidato, ou gosta dele ou não. Depois, o resto da entrevista é passada a comprovar racionalmente a sua decisão emocional. Outro exemplo é quando uma empresa contrata consultores para suportar racionalmente decisões tomadas emocionalmente ou por instinto.
Com o Pro Search de Peniche aconteceu algo equivalente: felizmente, apesar da qualidade das condições em Peniche terem sido marginais relativamente ao esperado numa prova do WT, as pessoas gostaram tanto de tudo o resto que decidiram pegar nas boas memórias e justificar o regresso da prova à terra que melhor os tratou no circuito.

A quem lhe interesse, vou explicar um pouco o que, do meu ponto de vista levou a esta decisão (as opiniões não são minhas, mas reflectem o que eu ouvi e li). Entre muitos falei com, o ex-ministro Manuel Pinho (o seu apoio foi crítico), o presidente da Câmara e resto do pessoal da Câmara, CEO e outro pessoal da ASP, júris e comentadores da prova, organizadores da RipCurl, CEO e fundador da RipCurl, fundadores do conceito ProSearch, treinadores e surfistas, muitos jornalistas nacionais e internacionais, GNR e protecção civil, Turismo, patrocinadores...

OS PONTOS NEGATIVOS:
– Supertubos VS. Mundaka
- em duas semanas de campeonato, Supertubos apenas funcionou 2 vezes e apenas no dia 9! Criticava-se Mundaka, mas nisso Supertubos foi marginalmente melhor (felizmente que houve um dia que valeu por vários). Não ficou provado que Supertubos é melhor que Mundaka, ficou sim provado que Peniche tem mais e melhores opções alternativas.
– A instabilidade das condições – Decidir começar o campeonato num lugar e a ½ do dia outro (que até era a opção A) nas nossas costas ficar épico é muito chato. Ter muitos picos é bom, mas a organização queixou-se que Peniche foi um exagero (o Pacifico e o Indico são mais estáveis em ondas, e mais perto do equador os ventos são mais previsíveis e constantes); em Peniche o vento rondava a rosa dos ventos 2 vezes ao dia e as ondas raramente se mantiveram equivalentes 2 dias seguidos. A organização reconhece que terão de se adaptar à realidade Europeia se quiserem oferecer um bom espectáculo neste pequeno lago chamado Atlântico.
– Foram 4 os picos utilizados (demasiados) - a organização não está habituada, nem preparada para andar sempre de um lado para o outro e foi isso que constantemente aconteceu. Isso colocou muita pressão na organização que reconhece que algumas más decisões prejudicaram o espectáculo e os competidores. A flexibilidade oferecida por terem o material em camiões todo-terreno foi abusada e mudar tudo de pico leva à volta de 4 horas. É preferível assentar arraiais num lugar durante as 2 semanas e talvez mover 1 ou 2 vezes para outro spot em casos EXCEPCIONAIS. O Pico da Mota (pico C), mal preparado, acabou por ser o mais utilizado.

OS PONTOS POSITIVOS:
- Patrocinadores e cobertura mediática – Pode ser o melhore lugar do mundo com as ondas mais perfeitas e constantes, mas sem paparoca não há festa. O Turismo de Portugal, a TMN, a Buondi, a Seat foram vitais e se o campeonato volta, é porque os patrocinadores viram algum retorno e decidiram apostar no evento mais uma vez. A enorme cobertura mediática (ajudada pelos milhares de pessoas, pela destruição do site e da sessão de tow-in e porque o surf é um desporto de grande beleza), foi também extremamente importante, porque no fundo, os patrocinadores querem um retorno visível para a sua paparoca. A RipCurl só se compromete com uma licença se conseguir assegurar patrocínios por, pelo menos, 3 anos seguidos. Aparentemente isso foi conseguido para Portugal.
- Segurança – os últimos Pro Search não foram propriamente exemplares em segurança. Contaram-me que em Bali nunca dormiram descansados por causa dos terroristas, Chile não é propriamente um dos lugares mais seguros, e mesmo no País Basco, o risco de uma explosão ou rapto não é de omitir. Em Peniche o máximo que pode acontecer é cair-te uma arriba em cima (não sei como isso não aconteceu no Pico da Mota).
- Espectáculo – a organização confessou que o famoso dia de Supertubos e a energia demonstrada pelos espectadores, foi do melhor que encontraram em todo o tour!! Sabia-se que Portugal era uma potencia do surf em crescimento, mas ninguém estava preparado para a loucura que encontraram.
- Simpatia das pessoas e tudo o resto que Portugal e Peniche têm para oferecer a qualquer visitante: bons hotéis, boa comida (felizmente que a época da sardinha foi excelente e durou mais que o normal), bom vinho etc etc. O tour é muito cansativo para os participantes, e poderem sentir-se em casa é algo eles dão muito valor. Pode parecer um estilo de vida muito exótico, mas quase todos se queixaram da pressão que isso punha nas suas vidas.

O Brodie tinha-me dito que o que queria era conseguir manter as 3 provas na Europa e não acabar com nenhuma. Aparentemente, apesar de Mundaka não constar do Tour de 2010, também não foi posto de parte para os anos seguintes.

In a nutshell, espero ter ajudado a entender o que se move por trás da decisão de organizar uma etapa do World Tour.


Obrigado Manuel!
Esperamos mais destes!

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