segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Partilhar para proteger

A continuação do meu último post, sobre o elogio da partilha é a rejeição total e absoluta do “localismo”. E, para citar o meu camarada de blog Pedro Adão, nem de propósito, hoje no Público, uma muito curta noticia dava conta da preocupação das autoridades australianas com relação ao aumento de conflitos entre surfistas nas praias de Sydney, conflitos provocados pelos chamados “locais”. Em traços gerais a situação é esta: na Austrália o Surf é um desporto nacional e da mesma maneira que em Portugal quando faz bom tempo não há relvado deste país onde não corra uma bola de futebol, na Austrália com a chegada do verão as praias ficam lotadas de surfistas, ora os “locais” que surfam todo o ano, “no matter what”, reagem como se fosse uma invasão alienígena e pega a dar paulada, não nas ondas mas nos “outros” surfistas. A, muito curta noticia, ainda adiantava que as regras que iam ser impostas não seriam bem vistas pelos surfistas porque o surf é “um desporto em que a palavra “liberdade” é sagrada”.
Bom, na minha opinião, não existe liberdade sem respeito. O localismo é uma manifestação da mais primária falta de respeito, é uma forma de racismo e como tal básica e estúpida. Só é “localista” quem nunca viajou e os verdadeiros surfistas são os que nutrem sempre o desejo
de viajar, de procurar outras ondas porque, como já aqui postei, não existem duas ondas iguais e a natureza do tipo de liberdade que caracteriza os surfistas radica, precisamente, nessa necessidade incessante de procurar novas ondas para surfar, sempre.
Outra perspectiva que gostava de aqui deixar é esta: o “localismo” é potencialmente responsável pela destruição de muitos picos. Qualquer onda que permaneça secreta, apenas do conhecimento de alguns, corre o risco de não poder ser defendida quando for ameaçada por quem não tem um pingo de respeito pelo mar, pelas ondas, quanto mais pelos surfistas. É este o caso da Madeira, é também e de uma forma ainda pior o caso dos Açores e só não foi, totalmente, em Santo Amaro, porque aí, como na Austrália, já quase que há mais surfistas que futebolistas. Tenho discutido muitas vezes com amigos meus se nas revistas deve ou não ser referido o nome e a localização dos picos, a minha opinião é que sim na grande maioria dos casos. Só se os bons spots forem conhecidos, surfados e respeitados, tanto pelos surfistas como por quem só vê as ondas de terra, só assim se conseguirá defender esses spots. Aqui em São Miguel já duas óptimas ondas foram aniquiladas pela fúria destruidora do dinheiro, do betão e da ignorância. Foi impossível a um pequeno grupo de amantes de ondas impedir que isso acontecesse. Só um grupo grande e abrangente de surfistas livres, respeitados e respeitadores pode fazer frente a tais ameaças e, desde que não estejam frente a ditadores de província, de pouca visão e pouco mundo, podem-se mesmo criar alternativas que vão ao encontro de todos. Na Austrália, em Surfer’s Paradise um grave problema de erosão de areias foi combatido com a criação de reefs artificiais e não com paredes de betão e ignorância.


POR: CONDE

1 comentário:

  1. CONDE ARMADO EM HOMEM =)

    ass: O lôco por ti, que sai di sisi.

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